22 de novembro de 2010

"Burnout": a síndrome do desânimo no trabalho

Todo mundo tem seu dia ruim de trabalho. Já quando o estado de insatisfação e fadiga é crônico e as tarefas que antes pareciam simples viram um fardo, é possível que o diagnóstico seja a síndrome do esgotamento profissional, ou "burnout".

Estima-se que 30% dos trabalhadores brasileiros sejam portadores da síndrome, que foi tema central do 8º Congresso da Isma-Br (International Stress Management Association), realizado esta semana em Porto Alegre (RS).
Ilustração/Libero
Exaustão física e mental, apatia e falta de perspectivas no trabalho podem ser sintomas da síndrome do "burnout"
O termo "burnout" deriva da expressão em inglês que significa queimar-se. Ou seja, quem sofre do problema é consumido pelo esgotamento. Batizada pelo psicanalista americano Herbert Freudenberger, no início dos anos 70, a síndrome tem como sintomas a exaustão física e mental, a falta de perspectivas (que muitas vezes se traduz como cinismo) e a ineficiência no trabalho.

"A pessoa não falta, porque não quer perder o emprego, mas fica mentalmente ausente", descreve a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da Isma-Br. É o que os especialistas chamam de "presenteísmo", fenômeno que causa mais prejuízos para a empresa do que o absenteísmo.

Pessoas que trabalham com a proteção de pessoas ou bens, como policiais, bombeiros e seguranças particulares, são as principais vítimas de esgotamento profissional, segundo a associação. Em segundo lugar, aparecem os motoristas de ônibus urbanos, pelo caráter repetitivo do trabalho, a pressão do tempo e o trânsito. Em terceiro, bancários e controladores de vôo, seguidos por executivos, profissionais de saúde e funcionários de call centers, nessa ordem. Por último, há uma categoria ampla: gente que é obrigada a trabalhar fora de sua área de atuação.

O QUE ESTRESSA HOMENS E MULHERES (FONTE: ISMA-BR)
HOMENSMULHERES
1º) Incerteza1º) Sobrecarga de trabalho
2º) Estresse interpessoal2º) Incerteza
3º) Falta de controle3º) Falta de controle
4º) Sobrecarga de trabalho4º) Incapacidade de administrar o tempo
5º) Incapacidade de administrar o tempo5º) Estresse interpessoal
Homens e mulheres

O estresse e o "burnout" não escolhem sexo, embora as mulheres sejam mais propensas a procurar ajuda antes, como explica Rossi. Segundo um estudo realizado com 900 profissionais (metade de cada sexo) e apresentado no congresso, as fontes de esgotamento físico e mental no trabalho são as mesmas para eles e elas, só ocupam posições diferentes.

Entre os homens, a incerteza em relação ao futuro é o aspecto mais difícil de se lidar. Já para as mulheres, é a sobrecarga de trabalho a principal causa de estresse, já que, muitas vezes, elas acumulam ainda as tarefas de mãe e donas-de-casa. A dificuldade em lidar com outras pessoas já tem um impacto menor para as mulheres, enquanto que, para os homens, é o segundo principal fator de desgaste. A falta de controle sobre a carga de trabalho é o único item que tem o mesmo peso para ambos os sexos.

Saídas

Para vencer o "burnout", a saída é buscar ajuda de um terapeuta e encontrar novas estratégias para lidar o excesso de demandas, já que nem sempre é possível trocar de emprego.

Para outro palestrante do congresso, o professor de saúde pública Brian Oldenburg, da Universidade Monash, em Melbourne, na Austrália, as empresas podem e devem participar do processo. Segundo ele, 60% das pessoas que sofrem de ansiedade ou depressão continuam trabalhando, por medo de perder o emprego. "Se o problema fosse detectado a tempo, todos sairiam ganhando", diz.

Para ele, a prevenção do estresse e do "burnout" envolve uma mudança profunda nos ambientes de trabalho, com iniciativas que vão muito além dos programas antiestresse. "Não adianta abrir uma academia ou uma 'sala de descompressão' na empresa, se não houver abordagem individual e adaptada à cultura de cada organização", defende.

O "burnout" pode se manifestar de formas variadas, mas alguns dos sintomas abaixo, em conjunto, podem ser indício da síndrome:

- desinteresse e apatia crônicos;
- sintomas gerais de estresse, como fadiga física e mental, dores de cabeça, problemas gástricos e mal-estar;
- perda do rendimento no trabalho;
- irritabilidade;
- falta de concentração;
- baixa auto-estima;
- despersonalização;
- falta de perspectivas em relação ao futuro;
- sensação de que a gratificação no trabalho não condiz com os esforços realizados;
- abuso de álcool, drogas, tabaco ou cafeína;
- cinismo e impaciência com os outros.


Tatiana Pronin
Editora do UOL Ciência e Saúde


(...)

Infelizmente eu acho que estou fazendo parte deste quadro. Não tenho qualquer problema com baixa estima, mas trabalhar 9 horas por dia e enfrentar engarrafamento não está dando para mim. Sei que todos passam a maior parte do dia no trabalho do que em casa, ou com sua atribuições pessoais. Mas, depois de dez anos nisso, estou ficando cansada de ficar tanto tempo no trabalho. Além do mesmo ser cansativo e exaustivo, devido a rotina, até a calmaria se torna insuportável. É torturante quando fico olhando para o relógio simplesmente esperando o tempo passar.

Fico pensando o que eu posso fazer para melhorar. E segundo os psicólogos eles dizem: mude de
trabalho, vá para algum que lhe de mais prazer. Ou então, oh... a vida é assim com todo mundo. Todos tem problemas então supere. Ou tem outro argumento que os psicólogos estão sugerindo. Pense no motivo pelo qual você esteja trabalhando  e se apegue a ele para se se sinta mais motivado.

Entretanto, se eu pudesse eu diria a eles. Gosto do meu trabalho. Gosto do que eu faço. Mas trabalhar 9 horas por dia é um pouco demais. E manter motivada durante todo esse tempo me parece uma tarefa quase impossível.